Técnica envolve o estímulo elétrico da medula espinhal e a recuperação com a ajuda de um suporte. Animais voltaram a caminhar em até três semanas
Os animais voltaram a andar depois de receberem estímulo elétrico na espinha e passaram por um processo de recuperação com a ajuda de um suporte (Reprodução)
Cientistas europeus anunciaram nesta quinta-feira que conseguiram fazer com que ratos paralisados voltassem a andar. O tratamento combina estímulo da medula espinhal e um suporte robótico. O estudo, realizado por pesquisadores da Suíça, foi publicado na revista Science.
Muitos cientistas trabalham em tratamentos para ajudar pessoas que sofreram lesões na medula espinhal a recobrarem os movimentos. O novo estudo mostra como uma dessas abordagens pode funcionar. A chave do sucesso da terapia foi conseguir fazer com que os ratos participassem da própria reabilitação. Após o tratamento, os animais demonstraram um aumento quatro vezes superior nas conexões entre o cérebro e a medula espinhal.
Conexões reativadas — O tratamento combina estímulo eletroquímico da medula espinhal, imitando os sinais que o cérebro normalmente envia para movimentar dos membros, e um equipamento de reabilitação que ajuda os ratos a se levantarem. A armadura robótica dá estabilidade aos movimentos, evitando que o animal caia. Com ela, os roedores conseguiram se mover em duas patas.
"No começo, o animal se esforça e é muito difícil. Então, o rato consegue dar o primeiro passo e fica surpreso. Ele olha para você como se estivesse pensando: 'Uau, eu andei!'", disse Gregoire Courtine, autor do estudo e diretor do departamento de tratamento de lesões na medula espinhal da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça.
Prêmio de chocolate — Para estimular os ratinhos, os cientistas ofereciam uma recompensa de chocolate. Após duas ou três semanas, à medida que suas habilidades aumentaram, os animais tornaram-se capazes de, voluntariamente, subir escadas, desviar de obstáculos e até mesmo correr. "Tivemos um percentual muito elevado de sucesso com estes animais. Sempre observamos, em todos os animais que tratamos, a recuperação do movimento voluntário", disse Courtine, acrescentando que mais de 100 ratos de laboratório foram testados.
Um tratamento similar foi testado em um americano de 20 anos chamado Rob Summers, que ficou paralisado da cintura para baixo em um acidente de carro e cujos progressos foram tema de um artigo publicado em 2011 no periódico médico britânico The Lancet. O estudo de caso forneceu a primeira prova de que estes tratamentos podem ajudar a restaurar o movimento voluntário em humanos.
Mais testes — Em entrevista à Associated Press, John McDonald, diretor do Centro Internacional de Lesão da Medula Espinhal do Instituto Kennedy Krieger, em Baltimore, nos Estados Unidos, observou que a lesão nos ratinhos do experimento suíço é diferente daquela que normalmente é vista em humanos. "Será preciso fazer mais estudos envolvendo lesões típicas de humanos", disse. Courtine disse que espera começar os testes em humanos usando a técnica de sua equipe nos próximos dois anos.
Imagem :Último Segundo