domingo, 9 de junho de 2013

(DES) “Humanização” no sistema de saúde


      Por Sonia Dezute
      Já atribui a forma desumana com que as pessoas são tratadas dentro de clinicas, laboratório e hospitais aos resquícios deixados pelo regime militar, porém estava enganada. Nessa época tal política de dominação e terrorismo por parte do Estado apenas facilitava a conduta hostil desta área para com aqueles que dela precisavam.
      Também me questionei se a falta de sensibilidade humana para com cidadãos doentes fosse por causa de um setor publico supostamente “gratuito”, degradado, com profissionais mal pagos (porém nem todos), descontentes com seus empregos, achando que o seu dever era o de prestar caridade e o de quem recebia o de ficar calado. Entretanto, tal questionamento não respondia o porquê no setor particular esse fenômeno também ocorre.
      Estamos vivendo a segunda década de um novo século e mais parece que somos protagonistas de um conto medieval.
      O setor da saúde não evoluiu em termos de atendimento e a relação médico/paciente é separada por um abismo. O problema,  concluo eu, começa a se formar na mais (tenra?) iniciação destes profissionais, la atrás, quando eles já sabem que terão o desafio de não desmaiar frente aos cadáveres e dissecações. O rompimento com os sentimentos é essencial e a grande maioria bloqueiam a  sensação da empatia. Um ser se torna mais um número e o paciente mais um ser.
      Este comportamento de ruptura também é imprescindível na área administrativa porquanto ‘empregado bom não se envolve com o cliente” e, afinal, “cada um com seus problemas”. Ah, sim, chamo de cliente porque a relação médico/paciente na verdade não existe. Negócio é negócio, e, assim sendo, os segundos cronometrados no atendimento também são computados como perda ou ganho.
      Todavia aquele que não toca as mãos no doente também é o mesmo que não se incomoda em usar da criatividade para resolver o  problema de uma grávida cadeirante que não consegue subir na maca ginecológica, indo embora sem ser examinada. Mais,  para que a acessibilidade aos banheiros deste contexto? E os balcões de atendimento para quem tem menos de 1,50cm? E o estacionamento  para motoristas deficientes? Esta área ainda não se familiarizou com as necessidades especiais e afirmam que delas tratam.
      De fato, algumas pessoas me perguntam se eu não gosto de médicos. Isso não é verdade mesmo porque o que me incomoda vai além  do indivíduo. O que me intriga é o poder da medicina de hoje que incorporou o mesmo poder de uma empresa, junto com sua arrogância.
      Acho desumano proibir o paciente ter um acompanhante na hora da consulta em pronto atendimento ou postos de saúde. Acho desumano  o internado ser ameaçado de perder uma autorização especial para ver  a filhinha, porque não se “comportou” diante da enfermeira chefe chorando de fome e dor, estando, ele, sem alimento e sem soro.
      Acho arrogância repetidos exames para provar determinada anomalia quando há trocas de médicos ou convênios. Mais arrogância ainda é quando o paciente não é levado em consideração soando, suas queixas, como mentiras, ou que as receitas da vovó são todas meras crendices.
      Claro que toda regra tem suas poucas exceções.
      Hoje, vemos as lutas por inclusão e melhores condições de saúde. Eu diria que isso jamais acontecerá se o fator humano não se humanizar dentro de todo, eu disse “todo” o sistema da saúde!
      Veja

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